O Bruno é assim: descontraído, acessível, antenado, objetivo, detalhista, trabalhador e viajador. E isso se reflete no seu design: moderno, leve, limpo, jovem, colorido, funcional, meio vintage, meio clássico, meio futurista? Sim, tudo isso e muito mais. A entrevista abaixo, concedida com exclusividade, mostra por que ele já é um talento consolidado no panorama do design nacional. (Veja mais em www.brunofaucz.com.br)
Seus produtos parecem ser uma prova de que a
sofisticação reside na simplicidade. Qual é o conceito de simplicidade que
direciona suas criações?
Acredito que esta
característica esteja ligada a minha vivência com as empresas, muitas vezes
projetei focando em processos produtivos mais ágeis; assim como tenho peças que
estão entrando no mercado A, tenho produtos no público B. Sempre projeto
pensando nos processos, buscando bons produtos com otimização de processos, acredito
que a riqueza está nos detalhes, então procuro sempre limpar os excessos. Quando termino um desenho, normalmente analiso
detalhadamente, com olhos de consumidor, e questiono a criação: Quanto eu
pagaria por isso? O que me chama atenção? Em que meu produto é diferente do que
já existe? Ele tem bons argumentos de venda? E por aí vai...Tenho um princípio
do qual não abro mão: não levo para o mercado um produto que não ofereça nada
além de preço.
Você acha que seus produtos costumam agradar a que
tipo de consumidor?
Sempre busco um
desenho desprendido de modismos, que possa estar fora da "linha do
tempo", para que o produto possa entrar em qualquer ambiente e agradar a
qualquer consumidor, então tento colocar detalhes para quem tem olhar para
detalhes e, ao mesmo tempo, busco simplicidade, para quem deseja uma peça limpa,
mas que não seja cansativa...é meio complexo, não é? Não sei se deu para entender.
(rs)
Arte e design caminham de mãos dadas?
Acredito que sim,
mas com muito cuidado. Caminham juntos, mas não podem ser confundidos. Vejo
design como algo extremamente multidisciplinar, preciso entender da parte
fabril, dominar processos industriais é essencial. Muitas vezes, o
empresário vai me perguntar: Ok. Quanto
isso vai custar? Se eu não dominar processos e conhecer custos, como vou
convencê-lo de que irá valer a pena investir em meu trabalho? O designer também
é meio psicólogo, perguntas como: "Que sensação meu desenho passa? Como as
pessoas irão percebê-lo?" precisam fazer parte do dia a dia. Produtos também
precisam trazer novidade, questionar conceitos, e acho que aqui entra a arte.
Há algumas semanas estive em NY e visitei o MoMa, achei bastante interessante e
tive a impressão de a Arte questionando a própria Arte: interessante, intrigante,
e confesso que um pouco incômodo também...Enfim, caminham
juntos sim, mas acredito que a arte dentro do design deve ser considerada com
cuidado, não podemos nos esquecer de que o empresário não quer expor em museu,
ele quer vender, faturar, pagar seus funcionários e seus investimentos, o
design tem que entrar para somar esses fatores com inteligência.
O que te inspira?
Qualquer coisa me
inspira, já desenhei peças baseadas em um Louva-a-Deus, em um cogumelo e em
diversas outras coisas. Sou muito observador, adoro fotografia e gosto muito de
questionar conceitos, isso me ajuda observar as coisas sob uma ótica diferente.
Mas existe algo que inspira minha vida, que é maior do que tudo, que é a obra
do Grande Criador, sua obra através de Jesus Cristo, sua morte e ressurreição
por amor a sua criação, que somos nós.
Como designer,
como "criador de coisas", muitas vezes imagino qual o sentimento que
Deus tem por não ter reconhecimento por toda sua criação. Imagine você criar
algo, no meu caso, criar uma poltrona (por exemplo), e as pessoas olharem e não
reconhecerem que eu a desenhei com todo carinho e cuidado e, ainda por cima,
dizerem que acham que ela é fruto do acaso, isso não deve ser legal.
Como fica a questão da sustentabilidade em suas
criações?
Sustentabilidade é
uma coisa delicada, vejo que infelizmente muita gente tem se aproveitado da
"tag" sustentabilidade
apenas para fins comerciais. Projetar produtos duráveis utilizando processos
fabris inteligentes, buscando usar madeira reflorestada, que não cause o corte
ilegal das florestas, faz parte do meu dia a dia; isso, para mim, é tão comum
que nem é algo consciente, do tipo "Agora vou projetar algo
sustentável". Busco estar atento a novidades que somam na busca pela
sustentabilidade. Um exemplo é uma linha de tecidos com pet que descobri há
pouco tempo e já consegui colocar em produtos. Não podemos pensar em
"um" produto "limpo": todo o processo deve ser sustentável,
e isso não deveria ser usado para fins comerciais, deveria ser uma consciência
comum. As pessoas não deveriam comprar um produto por ser sustentável, deveriam
não comprar o que não é produzido com consciência.
Quem são seus mestres no design nacional e
internacional?
Admiro muitos
profissionais. Sérgio Rodrigues, sem dúvida; Zanine também está na minha lista,
gosto do desenho descontraído da Renata Moura, uma grande amiga, admiro o
resultado que o trabalho do Rosenbaum traz para a sociedade (isso é
sustentabilidade, o design transformando comunidades e pessoas); o Sérgio J.
Matos também tem minha admiração pelos mesmos motivos do Marcelo, o design do
Sérgio é muito brasileiro. Sou fã do design nacional, ele é quente, agradável,
afetivo, enfim, talvez por estar estar ligado à cultura que vivemos...Minha opinião, tá?
Acho que estamos muuuuito bem com
relação ao design europeu, muitas vezes vejo frieza e impessoalidade nos
produtos do antigo continente... Internacionais? Não tenho nenhuma admiração
específica; admiro muito a visão que a Bauhaus trouxe para o design, a
simplicidade e a riqueza dos projetos são invejáveis, não é à toa que até hoje
temos produtos daquela época que estão totalmente "vivos" no mercado.
Alguns produtos seus tem um toque marcadamente
vintage. Pode-se falar numa modernidade
vintage?
Gosto do vintage,
ele oferece "lembranças", nos traz memórias. O emocional é muito
bacana, traz um diferencial competitivo muito bom quando um produto consegue
oferecer a alguém uma memória afetiva! Mas isso não é intencional, talvez seja
uma característica do meu traço mesmo, que acredito que pode ser lido como
"modernidade vintage" sim. Vou adotar seu termo, gostei! (rs)
Não sei se tem algo específico que tenha me levado a essas características, mas desde muito pequeno eu observava os móveis da casa das minhas avós, uma delas com peças originais dos anos 50 e 60; a outra, com peças originais dos anos 1900, das três primeiras décadas. Talvez isso tenha até me influenciado diretamente na escolha da profissão, o que sei é que, se pudesse voltar no tempo, teria novamente estudado Design!
Não sei se tem algo específico que tenha me levado a essas características, mas desde muito pequeno eu observava os móveis da casa das minhas avós, uma delas com peças originais dos anos 50 e 60; a outra, com peças originais dos anos 1900, das três primeiras décadas. Talvez isso tenha até me influenciado diretamente na escolha da profissão, o que sei é que, se pudesse voltar no tempo, teria novamente estudado Design!
No Brasil, o bom design pode ser acessível?
Claro que pode, só
acho que design acessível não pode ser visto apenas como "obras de
arte", muitas vezes existem produtos superinteligentes que não são
necessariamente as peças de "capa de revista". Também acho que o
Brasil ainda não entende bem o que é design, primeiro as pessoas precisam ver
que design não é símbolo de status, mas uma necessidade, não apenas de peças
bonitas, mas de soluções inteligentes.
A cabeça dos
empresários está se abrindo, mas ainda tem os "antigos", que acham
que você está lá só para desenhar uma casca,
e acabam não valorizando a profissão, alguns talvez por terem passados por más
experiências com "aventureiros" que realmente só entregam uma casca. O design precisa ser regulamentado
para que não existam pessoas "tentando" ser designers! Já pensou
alguém acordar e tentar ser médico? Acho que não funcionaria, assim como não
funciona no design.
Em termos gerais,
o nosso Brasil não coopera muito, com impostos absurdos, incabíveis, injustos,
etc etc etc... Como estou muito próximo das fábricas e sei quanto um produto
custa, por quanto ele sai de fábrica e por quanto é vendido para o consumidor,
às vezes essa indignação é elevada ao quadrado. (rs)
A pesquisa é fundamental no processo criativo?
Sem dúvida, mas
não apenas pesquisas de produtos concorrentes, pesquisar os processos
produtivos das fábricas e buscar explorar oportunidades que eles oferecem é
importante. Conhecer e pesquisar como os clientes finais pensam é muito
interessante, você ouve muita coisa louca e acaba tendo insights super legais e, muitas vezes, inesperados.
Particularmente, eu faço pesquisa de concorrência
por último, pois não quero ver produtos em excesso, tento evitar ver muita
coisa e, no final, acabar chegando à conclusão que só fiz uma mescla de coisas
interessantes que já existem.
Qual é o seu projeto profissional para 2014?
Continuar
desenvolvendo minha carreira independente, meu stúdio nasceu este ano, mais
precisamente em março, quando me desliguei de uma indústria de móveis onde fui
funcionário por 7 anos. Quero desenvolver e fidelizar os bons parceiros que consegui
e aumentar o mix de produtos, sempre buscado uma proposta completa de produto.
Pretendo me aproximar dos lojistas, pois eles têm informações muito importantes
para compartilhar. Projetando uns anos à frente, meu sonho é ver produtos que
permaneceram no mercado, pois conseguiram estar desprendidos dos modismos e
desgastes do tempo.
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