segunda-feira, 30 de maio de 2011

Rústico e chique

Blog Belle Maison


O termo rústico já deixou de ser pejorativo há muito tempo. E mais: é tendência, é chique, é natural, é personalíssimo. E, muitas vezes, acessível. Só não deve ser sinônimo de mal feito, descuidado, esculachado (desculpem essa palavrinha chinfrim, mas a própria palavra já é assim...esculachada, com suas vogais achatadas, sua sonoridade chôcha). Observe que o rústico atual é combinado com elementos mais sofisticados, o que resulta num chique com aquele ar de não tô nem aí. Não caia na besteira de perguntar o que tem a ver um lustre de cristal com um chão de cimento queimado, toras de madeira no teto e paredes de tijolos aparentes. Tem TUDO a ver, criatura ingênua e desinformada! Lembra daquelas matérias de moda em que as modelos apareciam chiquérrimas nos lugares mais inóspitos, no meio do nada, perdidas na poeira, empoleiradas em escombros, equilibradas sobre pedras? Esse é o espírito da coisa. Tá tudo perfeitinho, impecável, com cara de vitrine? Nada mais anti-natural (ô, minha Nossa Senhora da Nova Ortografia, será que isso ainda tem hífen?). O conceito de arquitetura sincera, de acordo com o arquiteto Guto Requena, é sem adornos, com colunas descascadas, vigas aparentes, paredes mal-acabadas, instalações elétricas aparentes (o que, aliás, facilita os reparos). Repare que há alguns anos nem se falava em madeira de demolição. Em tempo: não se intimide diante dos altos custos da madeira de demolição; qualquer madeira antiga tem esse status. Ataque um chiqueiro abandonado, pedaços de boa madeira jogados no lixo, aquela porta encontrada no ferro-velho...sol e chuva são um santo remédio para a madeira, desde que ela não fique ao relento a ponto de apodrecer ou empenar. Dá aquele charme desgastado de produto histórico e valioso. Resumindo: o importante é aproveitar, é variar, é misturar o simplinho com o sofisticado, é mostrar despojamento e sinceridade. Novamente: não confunda simplicidade com relaxo. Você precisa mesmo ir ao restaurante com sandálias do Guga, meias de algodão e calça de elástico?


Casa e Jardim

Casa Claudia

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P.S. Este blog terá seu endereço modificado para www.mariliafleury.blogspot.com

domingo, 29 de maio de 2011

Elisabete França e a reurbanização das favelas

Estimativa recente dá conta da existência de 1000 favelas na cidade de São Paulo. Reurbanizá-las é a função da arquiteta Elisabete França, superintendente de Habitação Popular da Secretaria de Habitação da cidade. Abaixo, trechos de entrevista na revista Arcoweb. 

Como surgiu o interesse da senhora pela habitação social?
Eu sempre gostei dessa área, desde quando era estudante. Em 1979, ganhei um concurso para estudantes do BNH [Banco Nacional da Habitação], que premiava o melhor projeto de plano urbanístico e habitação popular.
Qual foi seu primeiro trabalho profissional nessa área?
Trabalhei em planejamento na prefeitura de São Paulo após entrar em um concurso na Sempla [Secretaria Municipal de Planejamento], onde permaneci por dez anos. Mas o planejamento brasileiro é muito teórico: faz diagnóstico de tudo e não desenha quase nada.
Falta a prática ou a vontade política?
Não sei. Tenho uma assessora que é suíça e ela diz que quando chegou aqui sentiu falta de urbanismo. Quando estudei no Paraná, a cadeira de urbanismo era dada por Jaime Lerner, mas, em geral, na formação do arquiteto em São Paulo ela não existe, só planejamento urbano. Então vim para a secretaria, onde havia o Programa Guarapiranga, em 1993, de urbanização daquelas áreas. No início tudo era empírico, pois não havia experiências significativas e o Rio estava começando a fazer o Favela-Bairro. O Programa Guarapiranga não visava a habitação: o foco era o saneamento. Mas quando percebemos que estava sobrando espaço, começamos a fazer coisas mais elaboradas, e chamamos alguns arquitetos para fazer projetos.
Como funciona a metodologia de trabalho quando há uma área de atuação em favela?
Primeiro, escolhemos uma área. Entra a parte técnica, de levantamento topográfico etc. E fazemos uma pesquisa cadastral, família por família, o que detecta as questões socioeconômicas, o perfil da comunidade. Levantamos também a condição das habitações - se é de madeira ou alvenaria, por exemplo. Com essa base, temos uma ideia do que está dentro da chamada área de risco. Em Paraisópolis [favela na zona sul paulistana], por exemplo, elas eram muitas. Temos um sistema que analisa o perfil do terreno e cruza com as informações de cadastro, e assim não é difícil identificar as áreas de risco. Sabendo quantas famílias precisam sair - em Paraisópolis, são 3 mil famílias próximas de córregos, em áreas inundáveis, de encostas ou contaminadas -, temos condições de fazer a licitação da obra, com um projeto básico.
As novas habitações são destinadas a famílias em áreas de risco. E as demais?
Fazemos a urbanização: a abertura de espaços comunitários, de áreas de referência. Licitamos e contratamos o projeto executivo de um arquiteto.
O saneamento básico também é feito?
Nós fazemos a ligação individual. Resolvemos 100% do esgoto, água, drenagem etc. Temos vários programas integrados com a Sabesp [companhia estadual de saneamento], por exemplo. Em relação à energia elétrica, todas as unidades em favelas de São Paulo têm ligação, a maioria legalizada. O que é clandestino, nós legalizamos. Temos também uma parceria com a Eletropaulo [empresa da área de energia] para mudar postes ou aplicar alguns programas de economia de luz. Fazemos ainda a iluminação de novas ruas, praças e parques.
Quando um arquiteto faz a urbanização ele também se encarrega dos prédios novos?
A metodologia foi evoluindo. Até 2005 havia vários projetos por favela. Então, percebemos que isso não era adequado, pois, em geral, a favela está em uma bacia hidrográfica e se o esgoto não for captado o problema não é resolvido. Estamos fazendo planos urbanísticos por sub-bacias; se é necessário remover algumas unidades e há lugar na própria área, o arquiteto já faz o projeto das moradias. Em operações como a Água Espraiada, é só construir unidades, não há urbanização. Nesses casos chamamos também arquitetos que têm certa experiência, além de um pessoal mais jovem. Montamos uma carteira que já possui 40 arquitetos contratados. Para o poder público, que sempre fez tudo igual, isso é um começo. Não é fácil convencer que arquitetos são importantes. Estamos em uma fase inicial, conquistando esse espaço para a arquitetura. Nossa ideia é chamar pessoas que tenham linguagem contemporânea, que façam pesquisa, que não sejam reprodutores da velha arquitetura moderna. Nas áreas pobres, o trabalho bem-feito e bonito é fundamental, pois o usuário passa a sentir orgulho.
Tem relação com a autoestima, não?
Sim. Ele passa a se sentir parte da cidade. Outro dia, fui à Etec [escola técnica da rede estadual] de Heliópolis [favela na zona sudeste de São Paulo] e havia uma filmagem do programa do [José Luiz] Datena. A escola é um projeto de Ruy Ohtake, cheio de curvas, e Datena disse para os alunos: “É chique isso aqui. Como é que vocês se sentem estudando em uma escola igual à de rico?”. E uma menina respondeu: “Escola de rico não tem projeto de arquiteto famoso”. Estamos começando a criar uma cultura e fica mais fácil convencer os gestores públicos da importância da arquitetura.
O que a senhora responde para aqueles que opinam que não se deve urbanizar favelas, que o correto seria construir habitação decente para todos?
Concordo com Sergio Magalhães, que diz que a questão não é urbanizar ou não urbanizar: cada caso deve ser estudado individualmente. Ninguém pode ficar morando em local de risco. Mas existem áreas, como Paraisópolis, que são consolidadas, com pessoas que moram ali há 30 anos, e ninguém quer sair. Paraisópolis é um bairro sustentável, pois a maioria das pessoas sai para trabalhar a pé, no caminho deixa a criança na escola, há um comércio intenso e um convívio comunitário pouco encontrado na cidade - talvez como na Vila Madalena. Não dá para comparar com bairros de classe média, onde as pessoas não se encontram mais na rua. Há uma visão de classe média que não entende a casa que não é argamassada. Há pouco tempo fiz um trabalho para o BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] sobre as urbanizações da década de 1990 e fomos com os consultores fazer uma visita. Não dá mais para diferenciar o que foi urbanizado de um bairro normal. As casas estão melhoradas, com aqueles balaústres de que eles gostam nas fachadas, cores etc. É só regularizar que vira um bairro. Daqui a dez anos, quem visitar Paraisópolis ou Heliópolis não vai mais reconhecer uma favela. Paraisópolis é a nossa ação mais visível, mas a carteira de projetos cresceu bastante. Em São Paulo há mais de mil favelas que necessitam de algum tipo de trabalho.
Como são feitos os projetos?
Contratamos os arquitetos e coordenamos o processo. Todo mundo reclama que poderia ter concursos de projeto, mas estamos em uma fase de fortalecimento da arquitetura, convencendo as pessoas de que ela é importante. Há uma mentalidade herdada da época do BNH que entende que as classes mais baixas devem receber arquitetura de má qualidade. Então, fazemos licitação de obras com projetos básicos - não dá para fazer com projeto executivo, pois o processo é muito dinâmico - e a empreiteira escolhida contrata o projeto de arquitetura.
Não há resistência da população à urbanização?
Não. Ela pode surgir, por exemplo, quando é preciso retirar moradores de uma área de risco e não está prevista a mudança imediata para novas unidades. Mas agora criamos um programa pelo qual a prefeitura paga aluguel temporário para as famílias, e isso melhorou: há 20 mil famílias nessa condição. O número aumentou em 4 mil por causa das inundações no Jardim Pantanal.
O crime organizado dificulta o trabalho?
Não, eles não interferem. Há o tráfico, mas não é como no Rio de Janeiro, onde o Estado ficou muito tempo ausente e tudo ficou mais violento. Aqui, as favelas possuem creches, postos de saúde etc. Não vejo muita violência.
Em relação aos moradores que estão sendo removidos e vão ganhar uma nova habitação: isso não gera ciúmes dentro da comunidade?
Isso ocorre. Em geral, a primeira reação dos moradores é não querer ir para os apartamentos, pois acreditam que moram em uma casa mais confortável. No final da construção, eles gostam. Mas há alguns casos engraçados. Em Paraisópolis, por exemplo, havia mil famílias às quais pagávamos aluguel. Quando ficaram prontas as 200 primeiras unidades, alguns não queriam mudar-se porque o prédio novo era muito perto da favela! E eram pessoas que moravam no pior local, em cima do córrego que alagava. Preferiram esperar o outro edifício, que era mais distante.
Os novos apartamentos possuem até 50 metros quadrados. Isso é maior ou menor do que os barracos?
Depende. É maior, por exemplo, do que casas na parte mais precária da favela; mas há áreas de risco em morros com casas grandes, com até cem metros quadrados. No Cantinho do Céu, próximo da represa Billings, eles ridicularizam nossas unidades. Estão em área de manancial e precisam sair, mas alegam que nos prédios novos não tem vista para o lago nem cobertura para fazer churrasco.
No fundo, impõe-se a organização espacial de um apartamento convencional, estabelecida pelo modernismo. Não se procura criar organizações espaciais diferentes?
Christian Kerez, arquiteto suíço que está trabalhando em Paraisópolis, fez um exercício nesse sentido. Acho que Christian nunca tinha visto um pobre na vida. Ele faz uma arquitetura limpa. E depois de 15 dias no Jardim Colombo ficou amicíssimo do líder. O suíço fez a leitura que pode ser de um arquiteto europeu: para ele, os becos e as ruazinhas eram interessantes. O projeto dele tenta reproduzir essa ideia. Já os arquitetos brasileiros ainda são muito modernos.
No sentido de tentar impor o saber?
Sim. Há algumas propostas simples, como a cozinha aberta, por exemplo. Estamos trabalhando para fazer paredes removíveis. Sonho em oferecer algumas variações de plantas - sala e cozinha integradas, sala maior etc. É impressionante como a baixa renda incorpora o gosto da classe média. Eu não entendia as balaustradas nas fachadas de Paraisópolis. Então o fotógrafo Fábio Knoll me mostrou algumas fotos dos prédios ao redor: são todos neoclássicos. Ele me mostrou também fotos de apartamentos em Paraisópolis com cores nas paredes, luz indireta, sancas de gesso. Tem uma unidade que até chamou decorador. A incorporação cultural é impressionante. Quando entregamos um condomínio, os moradores chegam a dizer que a vizinhança não pode utilizar o playground. Estamos criando um bairro, mas eles acham que ali é um condomínio e a vizinhança é perigosa, precisam colocar interfone eletrônico.
Por que o escritório chileno Elemental foi chamado?
Resolvemos chamá-los para fazer um estudo. No Chile, eles trabalharam muito com o térreo, o que não é viável aqui. Por isso, ainda não estou segura em relação à ampliação que eles propuseram para Paraisópolis, apesar de ela ser verticalizada.
Há uma novidade na postura do Elemental, que propõe a participação dos usuários na conclusão do trabalho. Isso existe por aqui?
Eu tenho impressão de que os arquitetos estão começando a aceitar as mudanças propostas por clientes e usuários. Nossa formação, no entanto, é ainda muito moderna.
Nas conversas com os arquitetos isso é abordado?
Sim, eles sabem que é necessário paciência e não adianta vir com ideias de cima para baixo.
E eles participam de reuniões com a comunidade?
Sim, são dezenas de reuniões. Cada projeto tem uma equipe enorme, da área social, engenheiros, arquitetos etc. Fazemos reuniões semanais e os arquitetos participam mensalmente, principalmente quando é um projeto de urbanização.
Em relação aos condomínios, os moradores pagam?
Nem sempre. Oferecemos um curso de síndicos para as lideranças no Secovi. Fizemos com uma turma de Heliópolis.
E quem não paga?
Nós formamos o condomínio e eles têm que encontrar soluções. O Secovi é interessante, pois tira aquela ideia que é um trabalho social: eles entendem que fazem parte de uma sociedade e precisam arcar com as responsabilidades. A inadimplência não é alta.
Quanto é em média a taxa de condomínio?
Cerca de 20 reais. Não tem elevador. Eles dividem a luz e a limpeza. Em alguns casos, quando a pessoa não pode pagar, ela faz a limpeza, por exemplo.
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Como se procede com os moradores de prédios novos dentro da favela que compram e revendem as unidades?
Se vender, podemos retomar. Em geral, os vizinhos denunciam. Que eu saiba, há três casos nos primeiros prédios de Heliópolis, nenhum em Paraisópolis, e no Jardim Olinda há uns dois casos, sendo que um foi retomado.
Para o usuário, quanto custa um apartamento desses?
Depende da renda. Ele tem até 85% de subsídio pela CDHU se a renda for muito baixa. Por um apartamento que custa até 60 mil reais ele pode pagar 15 mil. Por mais fica difícil vender, mas pode acontecer e trabalhamos com eles a ideia de que se trata de um patrimônio.
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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Janela (in)discreta


Art&Décoration

Algumas janelas, como bem mostra o filme do Hitchcock, podem ser bastante indiscretas. Discrição ou indiscrição são, ambas, opções perfeitamente aceitáveis para embelezar sua casa. A transparência reveladora, que charme que dá! E, louvado seja Deus, agora que saíram de cena os bandôs complicados, babados exagerados, grilés, pompons e rococós, tudo ficou bem mais fácil. Improvise: tiras de tule, panos de prato, juta, qualquer maneira de enfeitar, de velar e de revelar vale a pena. Varões duplos, ganchos, trilhos...uma máquina de costura basiquinha, e você, com um miniminho de habilidade, consegue fazer uma cortina cheia de bossa. O importante é não deixar suas janelas peladas, sem-graça, esquentando, ou melhor, esturricando ao sol (estamos em Goiás, lembra?). Releve essa opinião, se a sua casa estiver cercada por uma vista deslumbrante (montanhas, pinheiros, lagos, um belo jardim, uma piscina bem azul, a Mata Atlântica, o mar do Caribe). Odiossincrasia (mais grave que idiossincrasia): cortinas curtas - a não ser que você tenha um móvel, um obstáculo logo abaixo, não me convencem muito; parece, sempre, aquela coisa a menina cresceu, a saia encurtou, e sobra perna (no caso, parede); odiossincrasia dois: cortinas compridas que não tocam o chão -  ok, facilita a varreção diária, mas que fica esquisito, fica; além do que, como temos duas mãos, podemos usar uma para levantar a cortina e outra para passar a vassoura (ou, em último caso, pedir ajuda a quem estiver mais próximo). Pense, lógico, na funcionalidade. Cortinas transparentes não funcionam bem em um quarto de dormir, a não ser com um blackout sob o tecido transparente. Assim, como uma roupa de qualidade, o que é fundamental em uma cortina é o acabamento e o caimento. Para forrar sedas rústicas, o tergal e a flanela são ótimas opções; o forro dá forma e garante a durabilidade da peça. Superposições contrastantes são bem vindas. Se quiser um visual mais clássico, a prega americana é uma pedida certeira. E, para dar um toque bem pessoal: ponteiras, presilhas, argolas, pedrarias...

Casa Claudia

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Art&Décoration

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domingo, 1 de maio de 2011

Movimento Natura Acolher

Divulgando o pedido abaixo:



Para conhecer o trabalho da Bordana, compareçam à exposição na Catedral das Artes (convite logo abaixo). A proposta é justa e os trabalhos são lindos.  Repassem, divulguem, votem!