quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Domingos Tótora e o design sustentável








Domingos Tótora, formado em artes plásticas, é mineiro de Maria da Fé e, nessa cidade, há 15 anos, trabalha com a reciclagem de papelão, material que já virou móvel, papel de parede e objeto decorativo. Num trabalho de formiguinha, unindo garra e muito talento, ele já recebeu títulos como o Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, na categoria Mobiliário, e o Prêmio Top XXI, na categoria Design Sustentável. Abaixo, entrevista concedida à revista Di Casa:

"Di Casa - Sustentabilidade virou moda. Como é realmente trabalhar com essa ideia e buscar algo além do óbvio?
Domingos Tótora: Sem dúvidas, sustentabilidade se tornou uma palavra 'fácil'. Há 15 anos, quando comecei a trabalhar reciclando papelão, não se falava nessa palavra. Acho que não tem que falar, é fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz. A fala tem que ser a prática. Acredito que design é isso: quando você desvia o olhar do óbvio. Trabalhar aliando arte e design faz com que o objeto tenha função e emoção ao mesmo tempo.

Di Casa - De onde surgiu a ideia de trabalhar com papelão reciclável? O que você busca com esse trabalho?
Domingos Tótora: A pesquisa com o papelão começou quando percebi o grande descarte deste nas portas dos supermercados da cidade. Sou muito curioso, comecei a experimentar. Daí surgiu a massa que é de uma plasticidade incrível, é a matéria que até agora tem me dado retorno da minha criação. É como se fosse um diálogo. Eu pergunto e ela me responde imediatamente. Gosto muito de uma frase do escultor egípcio Anish  Kapoor: 'Interessa-me, nesta questão do material, aquilo que ele possui e que não é material, uma vez que creio que  em todas as histórias dos materiais há um peso equivalente, ou melhor, imaterial'.

Di Casa - Como é o processo de criação das peças com papelão?
Domingos Tótora: Não tenho um processo de criação, um momento específico para isso. Vivo na criação. Moro no alto da Serra da Mantiqueira e convivo 24 horas com as formas orgânica da natureza exuberante daqui. Por isso estas formas saem no meu trabalho. Por exemplo, o Vaso com Frisos, que remete a uma casa de marimbondos, não existe uma intencionalidade. Depois de pronto é que a gente percebe a influência do que existe no meu entorno.

Di Casa - Você trabalha a reciclagem de outros tipos de materiais ou apenas do papelão?
Domingos Tótora: Por enquanto, tenho usado exclusivamente papelão e saco de cimento vazio, ainda não se esgotaram as possibilidades. Mas isso não quer dizer que estou fechado a experimentar novos materiais.

Di Casa - E de onde vem a inspiração na hora de criar?
Domingos Tótora: Sou impulsivo na hora de criar, não fico questionando isso ou aquilo.

Di Casa - Que outro profissional você admira e indicaria o trabalho?
Domingos Tótora: Irmãos Campana, pela brasilidade implícita nas peças que eles criam.

Di Casa - Como surgiu a ideia de criar uma rede de artesãos?
Domingos Tótora: Os artesãos são peças fundamentais na produção dos meus trabalhos, eles são responsáveis pela materialização dos objetos. Quando crio uma peça, faço um protótipo, levo para a oficina e os capacito para a produção da mesma. Assim, tenho a capacidade de produzir para atender ao mercado. Hoje, me considero muito mais sustentável pela qualidade de vida que dou aos meus funcionários do que por dar vida nova ao lixo."




P.S. O endereço deste blog vai ser modificado para mariliafleury.blogspot.com


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