quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sobre casas, necessidades e valores

Adam Phillips, renomado psicanalista e ensaísta, diz que atualmente a ideia de uma vida boa foi substituída pela ideia de uma vida a ser invejada. Em vez de desejar atender as suas necessidades materiais e emocionais, uma expressiva maioria procura se enquadrar em modelos impostos pela sociedade de consumo, com a finalidade precípua (desculpem,não me ocorreu outra palavra) de provocar a inveja alheia. Essa ideia também tem abrangido a escolha dos itens que compõem uma casa. (Um conselho: Se você perceber em seu interlocutor uma clara intenção exibicionista, faça cara de paisagem desértica e direcione a conversa para questões mais sérias e pertinentes, como o último perfume criado por Thierry Mugler e a necessidade imperiosa de um móvel sob encomenda para abrigar as trezentas peças de sua porcelana de Limoges). Seja um pilar da resistência: não se deixe levar por modismos, esnobismos e que tais (traduzindo:coisinhas do tipo). Pense, sobretudo, em suas necessidades. Convenhamos que é meio ridículo comprar um móvel para preencher um espaço vazio e depois comprar coisas (das quais você não tem necessidade) para colocar dentro do bendito. Ou (pior), colocar na parede um quadro e não conseguir atinar com o estilo ou a técnica utilizada. Ou colocar uma arandela na parede e se assustar quando ouvir a palavra, que remete a caranguejeiras, viúvas-negras e outros aracnídeos.Ou corar de vergonha ao convidar uma visita para conhecer seu gazebo. Leve em conta seu próprio gosto, sua personalidade (procure ajuda profissional se não souber como expressar, adequadamente, sua personalidade; não é pecado), suas necessidades.O importante é que você se sinta confortável em sua casa (parece óbvio, mas não é). Mais: procure fazer o melhor possível. Isso pode ser feito com pouco dinheiro e sem ostentação. Goste da sua casa, com todos os defeitos que ela possui. Lembre-se: a perfeição não existe. Seja qual for o nome que você dê ao lugar onde mora (casa, lar, apê, barraco, muquifo, cafofo), cuide dele, procure encontrar qualidades (mesmo se elas forem praticamente inexistentes). Por exemplo: se você mora num primeiro andar, em uma avenida movimentadíssima, e o sinaleiro fica embaixo da sua janela, você pode se deliciar (?) com os vários gêneros musicais ouvidos a cada vez que o sinal fecha (de graça!). Se você tiver paciência, é possível até mesmo fazer um estudo sociológico, observando as marcas dos carros e associando-as à música escutada por seus motoristas.
Finalizando: detenha-se nas palavras: desejo, necessidade, estilo, aconchego. Para demonstrar meu apreço pela minha própria casa, colocarei abaixo ou em outra postagem, logo abaixo (Ah, essa luta inglória com os meandros da tecnologia!) algumas fotos da bonitinha.Eu poderia ser bem falsinha e dizer que só posso mostrar a sala, preservando, assim, minha intimidade, mas a verdade é que AINDA é o único ambiente parcialmente concluído (E, como diz um provérbio chinês, o homem só termina sua casa quando morre). Deus me livre!

Este endereço vai ser modificado, em breve, para www.mariliafleury.blogspot.com

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