segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Marcelo Rosenbaum e o design acessível

Não dá para evitar o lugar-comum Marcelo Rosenbaum dispensa apresentações. Qualquer pessoa que goste de decoração ou que goste de casa simplesmente, conhece Marcelo Rosenbaum. Qualquer pessoa que assista televisão também (quem não se lembra do Lar Doce Lar?). Então, só para saber mais sobre o que ele anda fazendo (ou melhor, sobre um pouquinho do que ele tem feito), alguns trechos de entrevista na Arcoweb:

"Há tempos você menciona o desejo de criar objetos para as classes C e D. Está conseguindo realizar esse sonho?
Lançamos em setembro uma linha de produtos nas Casas Pernambucanas, acho que é o início da realização desse sonho. Há anos falo em democratizar o design, em criar produtos com preço acessível e adequados às pequenas dimensões das casas populares. Mas havia sempre uma razão diferente entravando o caminho. O acesso do designer brasileiro a esse tipo de indústria ainda está muito longe. Há uma etapa de convencimento que tem que ser feita com o empresário, com o industrial, depois com aqueles que cuidam da demanda de distribuição, que são o grande gargalo: dificilmente o lojista vai pensar em divulgar um objeto que não seja exclusividade sua, mas é a loja a responsável pela divulgação e exposição do produto. Mas as Pernambucanas já são o ponto de venda, fazem o contato com a indústria, negociam o valor e, pela quantidade de lojas - mais de 300 -, têm poder de barganha. E estamos ainda tentando mostrar aos diversos agentes que é possível investir em design popular com qualidade.
O primeiro contato com o industrial ocorre sempre através do marketing?
Sim. O problema é que eles sempre pensam na gente como um instrumento de divulgação do produto que já existe. Não é no primeiro contato que nos consideram como criadores. Estamos muito focados na consistência do trabalho, mas o grande perigo de ser uma pessoa famosa é que a imagem pode se tornar maior do que o próprio trabalho. Administramos essa questão no escritório, para que a imagem não fale mais alto. Nas Pernambucanas, por exemplo, começamos há algum tempo assinando em folhetos uma seção de dicas relativas aos produtos que eles já tinham no acervo. Então começamos a batalhar pelo que eles chamam de licenciamento de produto, desenvolvemos estampas e delas vieram os objetos que criamos agora.
Qual a tiragem desses produtos?
É uma informação que não divulgam. Mas deve ser gigantesca, porque são 300 lojas, no Sul, Sudoeste e Centro-Oeste.
...
O que há de bom design nesses produtos?
Nosso pensamento é o mesmo de quando criamos para a Tok&Stok ou para a Micasa. No caso, a inspiração veio das roupas dos bonecos da feira de Caruaru.
Esse trabalho está conseguindo sustentar o seu escritório?
Produto não dá dinheiro, a renda dos royalties entra muito pingada. Se ele fica dez centavos mais caro do que o similar, o próprio representante deixa o mostruário no porta-malas e nem se esforça para chegar no ponto de venda.
Que etapas deram subsídio para esse primeiro passo de concretização do sonho do design popular?
O programa de televisão [Lar, Doce Lar, da Rede Globo, de transformação de moradias populares em áreas carentes] foi um dos marcos da minha carreira. Mas levou seis anos, desde a visibilidade imensa que a televisão me deu, para conseguirmos dar um primeiro passo na luta contra o medo que os empresários têm do design. Foi uma surpresa para mim, achava que seria um caminho muito mais rápido. Nesse tempo, apresentei a muitos industriais o meu portfólio e, quando era recebido, a conversa sempre terminava com uma pergunta pessoal sobre o Luciano [Huck, que comanda o Lar, Doce Lar, veiculado um domingo por mês]. Era frustrante. É muito tacanho esse deslumbramento com a televisão.
Como você foi parar nesse programa de televisão?
Sempre tive o desejo forte de investir nas classes C e D, já em 1999 eu dava entrevistas sobre o tema. Naquela época eu fazia um trabalho ligado a moda, a cenografia dos desfiles e a arquitetura das lojas de marca, mas meu sonho já era criar para as classes C e D. Eu definia esse universo como o das Casas Bahia. O fato é que sem o Lar, Doce Lar eu ainda estaria muito mais longe da realização desse sonho.
São muito distintas as referências visuais do design popular?
O que vende hoje é o produto bege, como se fosse casa de rico. A Tok&Stok, por exemplo, que é a nossa Ikea, atinge o público elitizado, as classes B, por vezes A e C+. No geral, o público espera o bege, tal qual a Casa Cor, que é muito impessoal. Dá para entender a lógica do lojista, eles comercializam por metro quadrado e não podem esperar que um produto comece a vender. Se não vender em seis meses, cai fora e dá lugar a outro. É um negócio, a conta tem que fechar. E a verdade é que os nossos produtos não vendem lá. Fizemos uns objetos superdescolados, nossos amigos compraram, expusemos no museu, eram baratos, mas não vendiam.
Qual a origem dessa estética generalizante?
Acho que é um problema de educação e de autoestima, que começa nas mostras de decoração e nas novelas. Na média, não tem nada diferente da cultura dominante mesmo fora do eixo Rio-São Paulo. Parece que vem tudo do mesmo lugar.
Mas os patrocinadores devem ter um bom retorno financeiro com o programa de televisão. Não poderia acontecer o mesmo com o produto popular?
Eles não falam de números, mas a cada edição sorriem de orelha a orelha. Acho que o grande barato da televisão é o poder de multiplicação da informação. Não sei se quem recebe a casa vai poder dar continuidade ao processo de transformação da própria vida. Não tenho certeza da profundidade e velocidade com que o que acontece lá - que nada mais é do que dar às pessoas condições dignas de vida, com um pouco de alegria nas cores e objetos - influencia os designers e as indústrias.
...
Qual é a maior habilidade da sua arquitetura atualmente?
Arquitetar relações. É um processo novo, lento, que abre possibilidades de formas diferentes de trabalho."


P.S. O endereço deste blog vai ser mudado para www.mariliafleury.blogspot.com












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