domingo, 18 de dezembro de 2011

Guto Requena, o bom design e a sustentabilidade afetiva

Já citei antes Guto Requena, no post  "Rústico e Chique". Pois bem, agora ele pode ser visto no seu programa Nos Trinques, veiculado pelo canal GNT, no qual pretende popularizar o design e defender a sustentabilidade afetiva, estimulando o consumo consciente, a aquisição de móveis e objetos de valor afetivo e o reaproveitamento de peças antigas. Aos 31 anos,  esse talentoso arquiteto mostra que o bom design não é encontrado somente em peças caras e que o brasileiro não precisa copiar modismos estrangeiros. Abaixo, trechos da entrevista na revista DCasa nº 48.

"DCasa - O brasileiro médio é criativo em termos  de decoração ou ainda segue copiando fórmulas estrangeiras?
GR - Um pouco dos dois: o brasileiro acaba copiando e buscando referências internacionais. Mas também há uma brasilidade aflorando a olhos vistos. Nos anos 1990, os irmãos Campana ajudaram muito a despertar a curiosidade e divulgar a criatividade de nosso país lá fora. Agora, a primeira geração pós-Campana está atenta a essa nova brasilidade e se aproveita disso no bom sentido. Muitos designers, arquitetos e decoradores brasileiros conseguem publicar em sites que são referência no mundo, como o dezeen (www.dezeen), yatzar (www.yatzar.com) e designboom (www.designboom.com). Uma das nossas grandes características é o improviso, que usamos histórica e culturalmente. Também temos bossa, o que nos diferencia no cenário mundial. Diria que, no  geral, o brasileiro médio faz o que pode em termos de decoração e design.
DCasa - Como arquiteto, professor e designer de interiores, quais os principais erros que você percebe na casa de seus clientes?
GR - Falta de personalidade, falta de identidade, falta de memória, medo de errar e ousar.O medo não leva a lugar nenhum.
DCasa - O que o seu programa, Nos Trinques, veiculado na tevê a cabo pela GNT acrescenta à cena contemporânea de decoração?
GR - Nos Trinques é uma tentativa de lapidar e descobrir qual é a cara desse novo design brasileiro original. Quem é essa nova geração de bons designers, o que ela faz e o que está falando. O programa também é um resgate do "ser brasileiro", apesar de ser bem paulistano. Pretendemos democratizar o design visitando a rua 25 de março, a rua do Gasômetro e até feiras de rua, para mostrar que o design está muito mais presente em nossas vidas do que imaginamos. É um programa que vai preencher a lacuna do design e também da decoração em diferentes escalas.
DCasa - Existe uma fórmula a ser seguida por quem pretende decorar ou construir sem gastar muito? Qual?
GR - Não há fórmulas; usar a criatividade é o limite. Uma garrafa de vinho pode virar um vaso lindo; uma porta abandonada em uma caçamba de rua pode  virar uma mesa bacana sob um suporte, um quadro mofado da infância pode ficar lindo na sala..A regra é não ter regra. É preciso ser honesto consigo mesmo, trazer identidade para a casa e humor. Erre mesmo, pode ser divertido!
DCasa - A sustentabilidade afetiva e o consumo consciente mudaram o jeito de morar do brasileiro ou ainda não aconteceram junto aos consumidores?
GR - Esse é um processo obrigatório. Aos poucos, os brasileiros começaram a entender que não é moda, e sim uma questão de sobrevivência. Vários prédios já obrigam a coleta seletiva do lixo; as pessoas estão mais atentas ao reuso, ao reaproveitamento.
DCasa - Como não cair em tentações erradas nem escolher peças que não serão substituídas tão facilmente?
GR - Justamente recorrendo ao que chamo de "sustentabilidade afetiva": adquira objetos e móveis que você não vai querer jogar fora amanhã; utilize peças que fazem parte da sua infância, da sua família...E, quando quiser se desfazer de certos produtos, repasse-os para os amigos ou dê uma nova cara a eles por meio de uma reforma. Não escolha peças da moda que não tenham a ver com você. Aliás, não tem nada mais cafona do que uma casa inteira de design. É preciso recontextualizar os móveis, fugir da pasteurização buscando referências emotivas, usar mais cores, planejar uma boa iluminação, escolher coisas práticas...
(...)
DCasa - Está faltando ousadia, criatividade ou bom gosto à arquitetura e ao décor brasileiros?
GR - Bom gosto é algo subjetivo; diria que está  faltando, humor, originalidade, ousadia e parar de copiar/imitar. Chega de ser pretensioso, chega de neoclássico!"

Assino embaixo.

P.S. O endereço deste blog vai ser mudado, em breve, para www.mariliafleury.blogspot.com

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